sábado, 20 de fevereiro de 2016

Filme: Medianeras: Buenos Aires na era do amor virtual


Para quem está aí se perguntando: " whatahell é Medianeras?" Bem, eu tenho que confessar que sempre vi esse filme com curiosidade, porém desinteresse. A capa colorida com uma multidão estampada e um nome preto, me dava um pouco de agonia. Mas, um dia alguém me perguntou: " - Esse filme "medianeras" já viu? O que é que significa "Medianeras?" Eu não fazia a mínima ideia, apesar de ter me perguntado várias vezes sobre o que seria, nunca tinha tido a iniciativa de procurar. Mas, nesse dia eu cheguei em casa e fui pesquisar o que diabos era isso. E descobri com a ajuda do google, óbvio, que são nada mais, nada menos que as partes laterais de alguns prédios, destinadas as propagandas, que por serem de frente com a medianera do outro prédio não se podem abrir janelas.  Depois de descobrir sobre a temática do filme, não podia deixar de assistir. E adorei. Vou tentar passar um pouco do sentimento desse filme. Ah! E uma coisa muito importante : Não desista de assistir na introdução. Esse filme é daqueles que começam com poucas expectativas e num certo momento mudam totalmente e te cola na tela. Fica difícil desapegar.


Filme: Medianeras
Ano: 2011
Duração : 1:33:48 min
Diretor e Roteirista: Gustavo Taretto
Elenco:   Javier Drolas
                Pilar López Ayala
                Inés Efron
                Carla Peterson
Gênero: Drama/Romance


" Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita. É uma cidade super povoada num país deserto. Uma cidade onde se erguem milhares e milhares de prédios sem nenhum critério. Ao lado de um muito alto, tem um muito baixo. Ao lado de um racionalista, tem um racional. Ao lado de um em estilo francês, tem um sem estilo.
Provavelmente essas irregularidades nos refletem perfeitamente. Irregularidades estéticas e éticas.
Esses prédios, que se sucedem sem lógica demonstram total falta de planejamento, exatamente assim é a nossa vida. Que construímos sem saber como queremos que fique. Vivemos como quem está de passagem por Buenos Aires. Somos criadores da cultura do inquilino. Prédios menores para dar lugar a outros prédios, ainda menores. Os apartamentos se medem por cômodos, vão daqueles excepcionais, com sacada, sala de recreação, quarto de empregada e depósito, até a quitinete, ou " caixa de sapato".
 Os prédios, como muita coisa pensada pelos homens, servem para diferenciar uns dos outros.  Existe a frente e existe o fundo. Andares altos e baixos. Os privilegiados são identificados pela letra A, às vezes B. Quanto mais à frente no alfabeto, pior o apartamento.  Vista e claridade são promessas que poucas vezes se concretizam.
O que esperar de uma cidade que  dá as costas ao seu rio?
É certeza que as separações e os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, a tensão muscular, a insegurança, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo, são culpa dos arquitetos e incorporadores. Esses males, exceto o suicídio, todos me acometem."
- introdução do filme.


Medianeras retrata a vida na Buenos Aires moderna. Como a arquitetura e a modernidade, se mescla no cotidiano e influencia o comportamento humano, afasta os corpos e cria uma barreira comunicativa entre as pessoas ao invés de uni-las como deveria. Através dos olhos e do cotidiano dos dois personagens, ponderamos sobre o amor na era virtual.

Martim ( Javier Drolas), web designer, fóbico, hipocondríaco. Ao primeiro olhar parece pouquíssimo atraente, depressivo, e problemático. MAS, com um pouco mais de atenção pode-se ver que não se trata de alguém extremamente avarento e triste, trata-se apenas de alguém acometido pelo Karma que é estar numa cidade super povoada e ao mesmo tempo deserta. Deserta de afeto. A solidão urbana. Martim foi pego pelo desalento, abandonado pela namorada, se isolou do mundo ( O abandono é o pior dos maus tratos, traumatiza mesmo.), junto com a susú, a cadelinha , igualmente abandonada e igualmente deprimida, tenta aos poucos resgatar as forças para voltar a ver o mundo com bons olhos.

"Com a estratégia do psiquiatra, fui perdendo o medo da cidade, do mundo lá fora, dos outros. Tirar fotos. Um jeito de redescobrir a cidade e as pessoas. Procurar a beleza mesmo onde ela não existe.
Observar é estar e não estar ou talvez estar de um jeito diferente..."

"Eu sentei dez anos atrás na frente do meu computador e sinto que nunca mais levantei."

Mariana ( Pilar López de Ayala), arquiteta, vitrinista, solitária, claustrofóbica,  medo de multidões, fala com um manequim. Mariana, vive num caos existencial completo. É arquiteta, mas não consegue criar nada depois de terminar um relacionamento de 4 anos. Bloqueada, depressiva, vivendo no automático ela vai levando a vida em tons de cinza. Vive uma vida introspectiva no seu próprio universo, Mas com certa noção de pertencimento.

" Se bem que o planetário me põe mais no meu lugar. Lembro que o mundo não gira ao meu redor, que sou uma parte muito pequena de um planeta, que faz parte de um sistema, que faz parte de uma galáxia, que, como milhares de galáxias, faz parte do universo. Isso me lembra que sou parte de um todo... Infinito e eterno..."

 Seu apartamento está abarrotado pelas coisas geradas pelo fim de um relacionamento de 4 anos, que ela reluta por se desfazer. Presa a Anos na mesma página do livro " onde está wally", segundo ela a cidade é o lugar mais difícil de se encontrar as coisas. O caos da cidade e o nervosismo da procura cega.

"Então me pergunto: Se, mesmo sabendo quem eu procuro, não consigo achar, como vou achar quem eu procuro se nem sei como é?"


E quem sabe responder essa? Nesse momento o caos, e a culpabilidade dos arquitetos e construtores nas mazelas sociais e existenciais, abre espaço para uma temática mais romântica: A eterna busca do amor em meio ao caos da modernidade, na era das relações vãs, e como diria Milan Kundera na era dos amores risíveis.

Martim e Mariana, são o que romanticamente gostamos de chamar de almas gêmeas. Duas almas perdidas na cidade, no meio de milhares e milhares de outros pares trocados. Para sorte deles o ser humanos nunca desiste da busca, quando se trata de amor. Mesmo que nessa busca precise esbarrar em algumas propagandas enganosas, nos famigerados "encontros". Segundo Martim cada encontro é para ele como uma visita ao Mcdonald's.

" Concluí que esses encontros são como combos do Mcdonald's. nas fotos, é tudo melhor, maior e mais apetitoso. Cada vez que vou a um encontro, tenho a mesma decepção que vem diante de um BigMac..."

(Quem nunca?!)

O desenrolar do filme é  a cerca desses dois personagens, e de como eles estão tão perto e ao mesmo tempo tão separados pelas muralhas da cidade. Pelos prédios e as suas medianeras.  E em como as pessoas estão tão vidradas nelas mesmas que não param para olhar ao redor. É exatamente essa individualidade excessiva que cria no expectador uma certa angústia, quando os dois personagens de cruzam pelas ruas, de novo e de novo.  Se cruzam inúmeras vezes e não se enxergam e nem poderiam, levando em consideração que suas janelas estavam fechadas para o mundo. 



Na vida as vezes vamos entrando tão fundo dentro de nós mesmos que não sobra nem uma brechinha do mundo exterior, todas as janelas são fechadas e ficamos apenas com a lembrança e com um mau pressentimento sobre tudo. Porém, chega uma hora que devemos abrir janelas e deixar os flashes de luz entrarem devagar. É assim em Medianeras, o caos da atualidade, as multidões, os problemas, as decepções, a arquitetura desconexa, que oprime e distância as pessoas, fazem pressão no mundo de Martim e Mariana, e ao mesmo tempo esses mesmos fatores os aproximam. Mariana na busca pelo seu wally, no meio da multidão. Martim, com sua estratégia de superar seus medos. Os dois individualmente vão enfrentando suas lutas, até não precisarem mais.



Não é um filme extremamente romântico e nem extremamente dramático. É um filme sutil, que tenta retratar as relações humanas em tempos difíceis. Eu não preciso dizer que SUPER RECOMENDO, porque acho que já está bem claro. Assistam e amem! Com certeza esse vai para a minha estante de favoritos, ainda vou assistir umas 50 vezes. Espero que tenham gostado! Podem deixar seus comentários. Beijos! :)




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