Eu
sumi, como desde o início sabia que faria quando,enfim, aquilo tudo terminasse. E eu sabia que terminaria tão
rápido como começou. Assim que os olhos dele bateram nos meus, eu soube que
dali a um tempo eu desmoronaria aos poucos, como uma geleira. Os meus olhos
encontravam nos dele o que eu não buscava. Aí estava exposto, aos meus olhos, um misterioso acaso. O que eu
não sabia era que o "acaso" apenas era para mim, pois os dele encontravam
nos meus o objeto de uma procura vã, um escape. Eu era o band-aid num corte
conseguido numa folha de papel, daqueles que doem e ardem muito no começo, mas que logo
passam, sem deixar sequelas. Quando a cura enfim chega, o band-aid não é mais
necessário.
Ele representou bem, mas com o tempo eu percebi que os olhos dele
velavam por outra pessoa, e que seu coração sofria uma dor de perda. Mesmo quando
ele negava veementemente esse fato, e principalmente por essa veemência tão
decidida, eu entendia o aviso: Recuar. A cada silêncio prolongado, lado a lado, eu lia no teto : Recuar. A palavra me perseguia dia e noite, um letreiro luminoso piscando insistentemente. Eu sempre vi uma certa nobreza no amor, nesse amor que sofre pelo outro,
que procura na multidão por aquele par de olhos que fazem o coração disparar e
a respiração arfar. Sempre imaginei ser assim o amor que se vale a pena viver. E eu que sempre me atribui tantas qualidades, tantos
aspectos interessantes e cativantes, me via no meio de um fogo cruzado de
olhares no meio de um show. Separados pela névoa estavam três corações. E onde
tem três um sempre sai perdendo. De fato.
A teimosia é o pior dos defeitos, é
algo de que eu tenho certeza, pois briga com a razão e inventa desculpas
esfarrapadas para mascarar a realidade que por ser dura dói quando jogada na
cara, enquanto a gente vira o rosto freneticamente para os lados para não ter que encarar e sentir a verdade. Bebi até a última gota de álcool que o meu corpo conseguia sustentar, e a
noite passou num flash. Mas o sentimento daquela noite ficou martelando, a dignidade e o amor próprio, já sentimentos desfocados aquela altura, martelavam de um lado, enquanto a teimosia martelava do outro. É como a metáfora do anjo do bem e o
anjo do mau, sentados um em cada ombro, aconselhando e desaconselhando
simultaneamente.
Para tudo que passamos na vida temos um momento "anjo do
bem/anjo do mau", e quando queremos culpar o universo por certas burradas
super humanas, ignoramos o fato de que nós escolhemos seguir o conselho vindo
do ombro errado e inebriados pela névoa amorosa, nos deixamos levar num caminho
arriscado. Apostando todas as fichas numa banca falida. Mas o que seria da vida sem riscos? Não podemos nos isentar da
culpa, muito menos estamos imunes aos "finais não planejados" da
vida. A única coisa que podemos fazer é entrar de corpo e alma, que é a única
maneira honesta de entrar na vida de alguém, com os dois pés e lidar com o
resultado da melhor maneira possível. Seja qual for. Foi o que eu fiz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário